sábado, 4 de setembro de 2010

Com vocês, os ilustres candidatos

Esse texto foi publicado no Comércio do Jahu, edição de 3 de setembro de 2010.

Com vocês, os ilustres candidatos
Maria Waldete de Oliveira Cestari
As eleições estão aí e neste ano um número muito grande de candidatos pertencentes ao esporte, televisão e música disputa o voto do eleitorado e tem sido alvo de críticas, por razões óbvias. Um texto exaustivamente divulgado pela internet é o que elenca alguns desses candidatos, a ficha de registro da candidatura e dados pessoais.
Nos esportes, os candidatos a deputado estadual são Popó e Fabiano, ex- jogador do Inter; a federal, Maguila, Marcelinho Carioca, Romário, Vampeta e Danrlei. No caso de Maguila, chama a atenção em sua ficha o grau de instrução: “lê e escreve”.
Na música, para deputado estadual concorrem Gaúcho da Fronteira, Leandro do KLB, Simony e Reginaldo Rossi. Para deputado federal, Juca Chaves, Kiko do KLB, Tati Quebra-Barraco e Sérgio Reis. Tati é candidata pelo PTC que elegeu Clodovil e ela foi escolhida, pois o partido queria um nome popular que tivesse chances de se eleger, como foi o estilista. Contra barracos no Congresso, vote em Tati.
Ainda na música, para o Senado, concorrem Rener, da dupla Rick e Rener e Netinho de Paula, do Negritude Jr. Para quem não se lembra, Rener foi considerado culpado num acidente automobilístico que matou duas pessoas em Santa Bárbara do Oeste em 20 de agosto de 2001; Netinho agrediu a socos sua mulher em 2 de agosto de 2005 e no dia seguinte ficou impedido de entrar em casa por determinação judicial. Em novembro do mesmo ano, na frente das câmeras, deu um soco na orelha de Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo do Programa Pânico. Hoje, candidato, ele se diz arrependido do que fez e promete, se eleito, humanizar o Senado. Seu jingle diz: "To chegando no Senado para ajudar minha galera, trabalhar por esse Estado, pra essa gente tão sincera..." No Brasil, a nefasta atuação de figuras cujos interesses pessoais, vaidade e envolvimento em escândalos levaram a Casa e o cargo ao descrédito. Não há mais aquela aura de respeitabilidade, seriedade e austeridade como havia nas suas origens romanas. O Senado também foi pro brejo.
Na televisão, para deputado estadual estão no páreo Dedé Santana, o companheiro trapalhão de Didi; Mulher Melão, dançarina de funk e rainha dos taxistas do Rio e Ronaldo Esper, famoso por suas agulhadas. Para federal Pedro Manso, aquele que imita o Faustão; Batoré, o feio; Tiririca e Mulher Pêra. Estes dois últimos merecem considerações especiais.
Tiririca é aquele do “Pior do que ta não fica”, ou” Para deputado, vote no abestado”; é o “candidato lindo”, o que não sabe nada sobre as funções de deputado federal, “mas vote em mim que eu te conto". Em entrevista à TV UOL, disse que considera a política brasileira “uma piada” e que quer ser eleito para ajudar os mais pobres e sua família. Diz que por ser um palhaço, é o melhor representante do povo brasileiro. Em seu site oficial há notícias de que ele tem sido muito bem recebido por onde passa. Todos querem abraçá-lo, tirar fotos. De acordo com Gaudêncio Torquato em seu artigo no Comércio, discorrendo sobre esse tipo de candidato, “abraçar o artista no auge de sua fama significa, para um “pobre mortal”, partilhar, mesmo que por segundos, de um cantinho no Olimpo.” No Olimpo, com Tiririca. Quer coisa melhor?
A Mulher Pêra tem o apoio explícito do senador Eduardo Suplicy, que diz em um vídeo do Youtube: “É muito importante que possamos ter esta mulher eleita para o Congresso”. “A referência é que ela é uma pessoa séria.” O jingle de sua campanha é um funk:” A comunidade diz, vote na Pêra pra ser feliz. É federal, é federal, vote na Pêra que é legal.” Na última revista Veja, ela diz que se candidatou porque nos shows perguntava à galera em quem ia votar e ninguém sabia. E que nesses shows ela distribuía a pêra da paz, uma pêra que “eu pegava e escrevia paz nela. É um símbolo da paz, não é?” Ela promete se eleita não deixará de usar o espartilho que lhe conferiu a forma da fruta, mas que vai mudar um pouco o modo de se vestir. “Lá é preciso ter certo respeito.” Como Maguila, seu grau de instrução é “Lê e Escreve”.
Há mais de 50 anos, um jornalista desanimado com o baixo nível dos concorrentes para a Câmara Municipal de São Paulo, lançou a candidatura do rinoceronte Cacareco. Ele teve cerca de cem mil votos. Olhando esse desfile de despreparados, os cacarecos que desejam representar os brasileiros, conclui-se que a política não é levada a sério e como diz Torquato, ela continua velha. Velha, doente, capenga. Se os “profissionais” a levaram para a lama, os “amadores” a tirarão de lá? Tiririca, você não tem razão. A coisa pode ficar muito pior do que está.