Memória Jauense



Jaú fabricou navio de pesquisa para ser empregado na Amazônia


O primeiro navio de pesquisas de água doce do Brasil, batizado Cena-1, foi construído em Jaú, no único estaleiro seco do País, e inaugurado em 8 de maio de 1989. A embarcação, encomendada pela Universidade de São Paulo (USP) foi empregada inicialmente pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura para pesquisa sobre a concentração de carbono na atmosfera e nas águas amazônicas.
Com 150 toneladas, 30 metros de comprimento e sete de largura, a embarcação contava com laboratório e instalações suficientes para 17 pesquisadores e cinco tripulantes. O navio foi financiado pelos governos federal e estadual e seria operado por cientistas brasileiros, com ajuda financeira da Agência Internacional de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas (ONU).
A embarcação foi construída pela Indústria Mecânica e Metalúrgica Santo Antonio, propriedade de Pedro Waldrighi, e levou três anos para sua conclusão. A empresa ficava em uma área de 25 mil metros quadrados no contorno rodoviário que dava acesso a Jaú, na zona industrial. Era o único estaleiro seco do País, sem acesso a águas fluviais ou marítimas.
O empresário, hoje com 78 anos, diz que um navio desse porte levaria apenas um ano para estar pronto, mas as sucessivas mudanças na administração da USP, que o encomendou, atrasaram os trabalhos por conta da burocracia. “Foi difícil, mas valeu a pena”, disse em entrevista publicada no Comércio em 7 de maio de 1989.
Depois da inauguração, o navio foi desmontado em duas partes que foram acondicionadas em duas enormes carretas com 48 pneus cada uma, construídas no próprio estaleiro, e transportado a São Miguel do Guamá, no Pará, a 147 quilômetros de Belém. A viagem, de aproximadamente 3 mil quilômetros, durou 55 dias.
De lá, seguiu por água até Manaus, onde seria seu porto definitivo. Com autonomia para 2,5 mil milhas e suprimentos de alimentos para um mês, o navio permitia viagens de investigação ao longo de toda a bacia Amazônica. “Ainda hoje continua navegando, mas seu nome foi mudado”, comenta Waldrighi.

Empresário

Aos 9 anos, Pedro Waldrighi vendia peixes e frutos do mar nas feiras e quitandas da cidade para ajudar na renda familiar. Seu contato com a metalurgia viria algum tempo depois, quando se dedicou ao ofício de aprendiz de torneiro mecânico na oficina de Oscar Schwarz. Nesse meio tempo, formou-se em curso técnico na Escola Técnica Industrial Joaquim Ferreira do Amaral.
Pouco depois resolveu abrir seu próprio negócio, um barracão na Alameda Jaú, onde passou a fazer recondicionamento de bombas para extração de areia, moendas de usinas, com apenas um torno e uma máquina de solda. Com o aumento das encomendas, especialmente pelas unidades industriais de açúcar e álcool, mudou suas instalações para a zona industrial.
Foi por essa época, por volta de 1962, que Waldrighi direcionaria seus negócios a um ramo aparentemente incompatível à região: a construção de pequenas embarcações. De sua atitude arrojada e inusitada, resultou o único estaleiro seco de todo o Brasil, assim chamado por não ter sido construído à beira de um rio, como é convencional.
Passou a fabricar barcos de todas as dimensões e logo ganhou mercado. Construiu iates, barcos para extração de areia, balsas de travessia de veículos e barcos de pesca.
Alguns anos depois, Waldrighi teve de vender a empresa. “Tive prejuízos grandes com clientes e precisei vender maquinário, pedaço do prédio, mas paguei todo mundo.” Hoje, o ex-empresário, trabalha como autônomo e, às vésperas de completar 79 anos, no dia 29 de junho, ainda constrói embarcações. Trabalha atualmente na fabricação de uma draga de areia às margens do Rio Pardo, em Santa Rosa do Vitelmo.
Texto de José Renato de Almeida Prado, publicado no Comércio do Jahu, 05/06/2010



Palco de sucesso do XV, Estádio Arthur Simões tinha apelido


Parte da história do Esporte Clube XV de Novembro de Jaú se passou nas dependências do Estádio Arthur Simões, o conhecido Fortim – pequeno forte – situado na atual Vila Santa Terezinha, também chamada de Vila XV, em referência ao clube.
O campo era usado pelo extinto Esporte Clube Sete de Setembro e foi adotado pelo XV em 1925. A escolha do nome se deu somente em 1946, em homenagem póstuma ao gestor financeiro do clube, um dos principais responsáveis por manter o time economicamente ativo. Tal denominação ocorreu dois anos antes da profissionalização do time e da ampliação do estádio em tempo recorde de dez dias.
A revista comemorativa do aniversário de 61 anos do XV de Novembro de Jaú, publicada em 1985, traz conhecida frase do gestor Arthur Simões em menção às crises financeiras vividas na época: “Enquanto Arthur Simões viver, o XV de Jaú não morrerá”.
As primeiras partidas depois da fundação do clube foram disputadas em um campo na área pertencente à Escola Estadual Domingos de Magalhães. Em seguida, foram transferidas para estádio alugado na Rua Sete de Setembro, que comportava pouco mais de mil pessoas em sua única arquibancada coberta. Com o aumento do público, os jogos passaram a ser feitos no Gymnásio Municipal, hoje Colégio São Norberto.
Entretanto, a fama do Galo da Comarca começou a ser feita no Fortim. Pelo Campeonato Paulista da 1ª Divisão de Profissionais em 1954, foi o melhor time do interior e, além da sexta colocação, levou a taça das goleadas com o ataque mais positivo. Em 1955, só perdeu em casa para o time do São Paulo e quatro anos mais tarde foi a vez do Rei Pelé sair derrotado do estádio jauense.
O ex-jogador e lateral-direito Araci Devides, o Aracito, 73 anos, que jogou no XV de 1957 a 1959, conta que todas as partidas eram especiais pela bela arquitetura da arquibancada de madeira, dos vestiários e da proximidade com o torcedor. Ele relembra curiosidades vividas durante alguns jogos.
“O alambrado ficava bem perto da lateral e dos cantos, e me lembro da torcida que puxava os adversários nas cobranças de escanteio ou lateral com as mãos e com guarda-chuvas para atrapalhar”, relata.

Vendido

No ano de 1967, o então presidente do XV, Laerth Maziero, assumiu o clube com o estádio penhorado por dívidas com o antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e ações trabalhistas movidas por funcionários e ex-jogadores. Assim, solicitou licenciamento temporário das atividades do clube à Federação Paulista de Futebol (FPF) e retomou o projeto para a construção de novo estádio.
A área do Fortim foi vendida e o estádio demolido em 1969. O capital arrecadado foi usado para comprar terreno e construir, na Avenida Caetano Perlatti, o Estádio Zezinho Magalhães inaugurado em 1973 com a volta das atividades profissionais
do time. ( José Renato de Almeida Prado, no Comércio do Jahu do dia 12/06/2010




Conservatório Jauense de Música tem talentos em sua trajetória

Em 1950, o professor José Nicolau Pirágine, violinista, e sua esposa, Marietta Musitano Pirágine, pianista, fundam o Conservatório Jauense de Música, dando a Jaú a primeira escola nesta área, com aulas de piano, balé e harmônica. A escola, que completa 60 anos em 2010, formou músicos que se tornaram expoentes em suas áreas como Arnaldo José Senise, que chegou a ocupar cadeira na Academia Brasileira de Música.
O primeiro prédio do conservatório ficava na Rua Tenente Lopes, 191, onde hoje está a Rádio Jauense. As sete salas de aula ficavam na parte da frente do imóvel e, aos fundos, havia um palco e auditório com capacidade para cerca de duzentas pessoas, onde eram realizadas apresentações musicais e exibições cinematográficas. O professor e presidente da Academia Jauense de Letras, Adonis Pirágine, 89 anos, filho do casal, conta que o gosto pela música sempre esteve presente em sua família, notadamente do lado materno. A vocação foi herdada também por um de seus irmãos, o maestro e pianista José Raphael Musitano Pirágine, 81 anos, que foi diretor artístico do conservatório por alguns anos, antes de se mudar para o Rio de Janeiro e posteriormente São Paulo.
Adonis Pirágine lembra que no palco do auditório havia um piano de cauda, onde se apresentaram diversos músicos renomados e outros tantos em início de carreira, como os irmãos José Carlos Martins e José Eduardo Martins, que se tornariam conhecidos internacionalmente como pianistas e maestros. “Os dois, que são irmãos do jurista Ives Gandra Martins, ainda eram adolescentes quando se apresentaram aqui”, conta. “Quando José Carlos Martins se apresentou em Jaú recentemente, disse que a primeira vez que tocou piano em público foi em Jaú, no conservatório.”
Paralelamente às atividades musicais desenvolvidas na escola, aos alunos também era facultado assistir a exibições cinematográficas no auditório. Os filmes, comumente institucionais e culturais, eram enviados por embaixadas estrangeiras no País, atendendo pedidos de Adonis Pirágine. “Costumava escrever ofícios para as embaixadas e consulados solicitando material e elas atendiam, remetendo filmes de seus países, que passávamos aos alunos”, recorda.
Em uma dessas exibições, um percalço sem tamanho: um dos expectadores deixou cair uma guimba (ponta ou pedaço que resta de um cigarro depois de fumado) e acabou provocando um incêndio. “Queimou todo o auditório, o piano, foi uma correria danada”, relata Pirágine. “Depois disso, meu pai desanimou e acabou vendendo o conservatório para o Geraldo Minhoto Teixeira.”

Novos ares

Quando Minhoto Teixeira comprou o Conservatório Jauense, em 1965, a escola funcionava na mesma rua, mas em outro prédio, onde hoje se encontra o Colégio Academia. O novo proprietário administrou o conservatório até sua morte, em 1997. Desse ano até 2003, a instituição foi gerida pela viúva, dona Arlete Cecília Buzin Minhoto Teixeira, hoje com 72 anos, sucedida por seu filho, André Luiz Busin Minhoto Teixeira, 29 anos. Em 1985, a família abriu uma filial em Bauru, o Conservatório Bauruense de Música, administrado por Alfredo Gonçalves Pereira, filho adotivo de Geraldo Minhoto.
André Teixeira conta que sob a administração de seu pai, o conservatório prosseguiu formando talentos, como Rodolfo Nuñez, Carlão Franceschini, Manoel Sabatino, Jaci Toffano, Mir de Oliveira e Rafael de Almeida Prado, entre muitos outros. “Quando tinha 17 anos, o Mir de Oliveira ganhou concurso estadual de piano e hoje continua no conservatório, como professor”, conta Teixeira.
O Conservatório Jauense de Música mudou-se novamente para outro prédio em 1992, na Rua General Izidoro, 436, Chácara Braz Miraglia. Oferece atualmente 24 cursos, ministrados por 20 professores e conta com cerca de 220 alunos. (JRAP)
( Fonte - Jornal Comércio do Jahu, edição de 10/4/10)

Jauense foi mais novo jogador a atuar em Copa do Mundo


Um dos mais lembrados pontas-esquerdas do futebol brasileiro foi um jauense, Jonas Eduardo Américo, o Edu, que se notabilizou ao defender por uma década a camisa do Santos e por ter sido, até hoje, o mais novo jogador convocado para uma Copa do Mundo, a da Inglaterra, em 1966, quando contava apenas 16 anos.
Sua biografia, que consta na página eletrônica do Santos Futebol Clube, destaca fatos marcantes de uma carreira de sucesso no meio esportivo. Nos dez anos em que foi titular do Peixe, foi o sétimo goleador do clube em todos os tempos, com 181 gols. As informações do site trazem que o jogador batia bem a gol, “driblava como poucos, humilhando zagueiros com seu jeito manso que, de repente, tornava-se infernal.”

Nascido em Jaú a 6 de agosto de 1949, Edu conta, em entrevista ao Comércio, por telefone, que desde muito criança era apaixonado pelo futebol. Diz se lembrar que o primeiro presente que recebeu do pai, Brasílio Raul Américo, o General, foi uma bola. Quando terminava o horário letivo, na Escola Estadual Lopes Rodrigues e, posteriormente no Colégio São Norberto, corria jogar bola no largo da Igreja de São Sebastião.
Aos 11 anos, passou a integrar o time do Vasquinho e sobressaía entre seus pares. Mais tarde, passou a jogar pela equipe da Associação Atlética Palmeiras, o Palmeirinhas. Em 1964, com 15 anos, foi indicado para fazer um teste na Vila Belmiro por ninguém menos que Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, amigo de sua família. No ano seguinte, havia se mudado para a cidade de Santos.
O ex-jogador, hoje com 60 anos, lembra que sua estreia no elenco titular do Santos se deu no dia 3 de março de 1966 contra a Portuguesa de Desportos. “Entrei nos 15 minutos finais, mas não marquei nenhum gol.” Na partida, válida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Rio-São Paulo, o Peixe venceu por 2 a 1 e Edu entrou para substituir Del Vecchio.
A partir daí, teve atuação brilhante e garantiu uma vaga entre os atletas que foram para a Copa do Mundo, iniciada em setembro do mesmo ano. Tinha apenas 16 anos. “Foi uma responsabilidade muito grande, como há em qualquer setor de trabalho”, diz. “O Brasil não ganhou, mas foi uma experiência que me ajudou muito. Saí de Jaú com 15 anos e um ano depois estava na Copa.”
Edu também jogou no Corinthians em 1977, no Internacional de Porto Alegre, retornou ao Santos, onde atuou até 1979, ano em que seguiu para os Estados Unidos para defender o Cosmos. Também fez parte do elenco do Tigres, da cidade de Monterrey, no México. Retornou ao Brasil em 1983 e encerrou a carreira no Nacional de Manaus.
Atualmente, Edu empresaria jogadores e desenvolve trabalho de clínica de futebol nos Estados Unidos. Também é proprietário de um centro de treinamento que leva seu nome, na cidade de Nova Esperança, Paraná. Casado há 30 anos com Maria Helena, o ex-jogador afirma manter estreito contato com Jaú. “Minha família está toda aí e sempre que posso vou a Jaú”, comenta. (JRAP)
( Fonte - Jornal Comércio do Jahu, edição de 8/5/10)


Pasto e Largo do Theatro se transformam no Jardim de Baixo


Nas primeiras décadas da história de Jaú, o espaço público que muito tempo depois deu lugar à Praça da República, popularmente conhecida como Jardim de Baixo, não passava de um descampado onde pastavam os animais. Consta que também havia no local um chafariz, que servia para abastecer de água a incipiente população.
De acordo com a historiadora Flávia Arlanch Martins de Oliveira, mais tarde a área passou a ser conhecida como Largo do Rosário, porque um pároco pretendia levantar no local uma igreja que teria como padroeira Nossa Senhora do Rosário.
No fim da década de 1880 foi construído no local o Theatro São Manoel, o primeiro da cidade, que era na verdade galpão simples, sem cadeiras, de propriedade Manoel José Coimbra. Nessa época, o espaço recebeu a denominação de Largo do Theatro.
Com o processo de modernização da cidade, que investia no embelezamento dos espaços públicos, a área recebeu árvores e outras melhorias. De acordo com a professora Patrícia Alonso Alves, pesquisas realizadas para o Projeto Corredor Histórico Cultural constataram que a construção da praça em formato de peixe teve início por volta de 1910, na gestão do prefeito Constantino Fraga. O responsável pelo projeto foi um engenheiro paulistano, João Ribeiro da Silva.
Bastante arborizado, o jardim ganhou também lago, coreto para os concertos musicais – que é tido como um dos mais antigos do País – e a iluminação elétrica foi colocada em postes com decorações semelhantes à do Teatro Municipal de São Paulo. Logo passou a ser um dos locais mais bem frequentados pelas senhorinhas e famílias de Jaú.

Exaltação

Dissertação da historiadora e professora Maria Beatriz Vidal de Negreiros, cita que o Comércio costumava exaltar o jardim como um dos melhores e mais bonitos do interior de São Paulo. Consta que as moças frequentavam o jardim para o descanso e o lazer, comumente vestidas no rigor da moda parisiense.
“De um modo geral, os jardins públicos eram frequentados principalmente pela elite social”, comenta Patrícia. “Jornais da década de 1920 relatam casos de pessoas que chegaram a ser proibidas de transitar pela Praça da República, por não estarem vestidas adequadamente, segundo os padrões da época.”
Os monumentos construídos na Praça da República também reservam história à parte. Um deles foi o erigido pela colônia sírio-libanesa, inaugurado em 1928, em homenagem ao jauense João Ribeiro de Barros, que realizou a travessia do Oceano Atlântico a bordo do hidroavião Jahú. Também chamam a atenção a estátua do Manequen Pis, réplica da estátua localizada na praça central de Bruxelas, na Bélgica, datada do início do século 20; e o monumento em homenagem aos combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932, inaugurado em 1965.
( texto de José Renato de Almeida Prado, publicado no Comércio do Jahu de 13/02/2010)



ASAS E AZES

Maria Waldete de Oliveira Cestari
O que têm em comum os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Francesco De Pinedo, Carlo del Prete e Vitale Zachetti; José Manuel Sarmento de Beires e Duvalle Portugal, o nosso João Ribeiro de Barros e Charles Lindberg? Todos eles entraram para a História porque atravessaram o Atlântico, nos anos 20 do século passado, “época dos grandes "reides" transoceânicos, tão perigosos quão gloriosos, em vista da precariedade de meios e do baixo grau de confiabilidade da aviação de então, que deixava os aviadores entregues à própria sorte, à mercê dos elementos; muitos foram os que perderam as vidas nessas tentativas.”, diz um texto da internet, fonte das minhas pesquisas. Mas Lindberg ganhou a fama de ser o primeiro. Vamos à história.
Gago Coutinho e Sacadura Cabral saíram de Portugal em 30 de março de 1922 e fizeram escalas em Las Palmas, Gando, São Vicente. Partiram de Porto Praia, em Cabo Verde, em direção aos Penedos de S Pedro e S Paulo, a 600 km de Fernando de Noronha, onde o avião seria reabastecido pelo cruzador República, que o estaria esperando. Dali seguiria viagem. Mas ao chegar aos Penedos, tentando amerissar, um dos flutuadores se partiu e o avião afundou. Os tripulantes foram salvos pelo República. O governo português enviou outro avião a bordo do navio Bagé para que continuassem a viagem. No dia 11 de maio de 1922, esse avião decolou de Fernando de Noronha com os pilotos, sobrevoou os Penedos e quando ia retornando para Fernando de Noronha, teve que amerissar em pleno oceano e os tripulantes foram salvos por um navio inglês. O governo português lhes enviou outro avião a bordo do navio Carvalho Araújo e com esse eles chegaram finalmente a Recife em 5 de junho de 1922 e depois de escalas, ao Rio de Janeiro em 17 de junho de 1922.
No dia 13 de fevereiro de 1927, os italianos Francesco De Pinedo, Carlo del Prete e Vitale Zachetti saíram de Sesto Calende, na Itália, pilotando um hidroavião rumo a Cagliari, início oficial do vôo e depois Bolama, na Guiné Portuguesa, de onde sairiam para atravessar o Atlântico. Mas devido a alguns incidentes resolveram decolar de Cabo Verde, mais ao norte, de onde saíram em 22 de fevereiro. Uma forte tempestade os obrigou a voar mais baixo para evitar os fortes ventos. Respingos de água do mar e de chuva inundaram a cabine de comando e para aliviar o peso, os três jogaram no mar tudo o que podiam. Depois de 15 horas de vôo, chegaram à Fernando de Noronha. No dia 23 voaram para Natal, chegando no dia 24. Depois de muitas escalas, amerissaram na Represa do Guarapiranga, em S Paulo, no dia 28.
No dia 2 de março de 1927, os pilotos portugueses José Manuel Sarmento de Beires e Duvalle Portugal, o navegador Jorge Castilho e mecânico Manuel Gouveia decolaram de Alverca, Portugal, em um hidroavião para atravessar o Oceano Atlântico num vôo noturno até Fernando de Noronha. Fizeram escala no Marrocos e amerissaram em Bolama, na Guiné, de onde partiriam para Fernando de Noronha. Como o avião apresentasse problemas para decolar por excesso de peso, Duvalle permaneceu em terra. Resolvidos alguns outros problemas, finalmente decolaram no dia 16 de março e depois de 18 horas de vôo, a maior parte feita à noite, chegaram a Fernando de Noronha. Em 10 de novembro chegaram ao Rio de Janeiro, depois de passarem por várias cidades brasileiras.
João Ribeiro de Barros saiu com o hidroavião Jahú de Gênova, na Itália, em 18 de outubro de 1926 e depois de inúmeros reveses, sabotagens, traições, sem ajuda governamental e pousos de emergência em Alicante, Gibraltar e Porto Praia, no arquipélago de Cabo Verde, dali decolou na madrugada do dia 28 de abril de 1927. Chegou ao Arquipélago de Fernando de Noronha por volta das dezessete horas do mesmo dia sem reabastecer. No tanque ainda restavam 250 litros de combustível. No dia 1º de agosto finalmente chegou a Santo Amaro, SP. João Ribeiro de Barros foi o primeiro aviador das três Américas a fazer a travessia aérea do Oceano Atlântico, da África à América do Sul, sem reabastecer e sem apoio marítimo.
No dia 20 de maio de 1927, Charles Lindbergh decolou de Nova York com seu avião “Spirit of St Louis” e chegou a Paris no dia seguinte, depois de 33 horas de vôo. Foi o primeiro vôo solitário, sem escalas. Os Estados Unidos propalam ao mundo que essa foi a ”primeira viagem pelos céus do Atlântico” sem escalas. Por tudo relatado até agora, viu-se que isso é uma grande mentira. Muitos o fizeram antes dele e João Ribeiro de Barros, injustiçado pela história da aviação, foi o primeiro americano a realizar a primeira travessia sem escalas. Essa glória é do jauense e dele ninguém a tira. Nem o marketing americano.

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IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO

No local onde está hoje a Matriz, foram construídas três igrejas antes da atual.Primeiro uma capela, inaugurada em 15 de agosto de 1853. Três anos depois, o Capitão José Ribeiro de Camargo e Bento Navarro construíram ao seu lado, uma capela de madeira, para que a primeira pudesse ser demolida e em seu lugar construída uma de alvenaria . Bento Navarro doou um terço de seus bens para que isso se tornasse possível. A construção começou em 1868, mas como o legado de Navarro não foi suficiente e para continuar as obras e concluí-la, criou-se um tributo sobre a produção agrícola da cidade e ela foi inaugurada em 1888.
A cidade crescia, prosperava, principalmente graças à cultura canavieira e era desejo se construir um templo à altura da fé e do progresso de Jaú. O engenheiro João Lourenço Madein foi convidado para fazer a planta e a elaborou em formato de cruz. A igreja foi construída num terreno de quase dez mil metros quadrados, praticamente abraçando o prédio anterior, que continuou a receber os fiéis para os atos religiosos.
A pedra fundamental foi lançada em 24 de novembro de 1895 e sua inauguração deu-se no dia 9 de junho de 1901, mesmo não estando completamente concluída .
No ano de 1898, a planta do majestoso templo foi exposta no saguão do jornal Correio Paulistano, da capital, chamando a atenção do público para tal empreendimento que estava sendo erguido no interior do estado. Em junho desse ano, o jornal registrou a matéria “A nova Matriz de Jahu está construída em terreno de 10% de declive. Na concepção da planta observou-se a necessidade de ser aproveitado todo o terreno de modo a abranger a maior área possível. Assim, não dispondo o terreno de suficiente fundo, foi necessário aproveitá-lo em largura tanto quanto as proporções o permitissem. Deste fato originou-se a forma da cruz que foi dada à Igreja.
As suas dimensões são de 40 metros de comprimento por 19 de largura na parte da cruz. Internamente está feita de maneira que todos os fiéis podem ver bem o altar-mor; deste modo a nave central e a cruz ficaram com uma largura de 12 metros, enquanto que as naves laterais ficaram apenas com 3 metros cada uma, servindo de corredores e para a colocação de confessionários.

Sobre estas naves laterais existe a galeria que se liga com a galeria do órgão, a qual fica sobre a entrada principal. O teto será abobadado com tijolos ficando com uma altura livre, interna, de 18 metros. O pé-direito, da rua à cornija mor tem 19 metros e até a cumeeira 26 metros, sendo a altura total da torre de 60 metros. Sem contar a cruz de 5,50 metros Nesta obra foi adotado o estilo rigorosamente gótico, que permite a aplicação de formas singelas porém monumentais. Todas as peças como janelas, colunas etc., são de pedra artificial e fabricadas mesmo no Jahu. A grande janela sobre a entrada principal bem como as janelas laterais, de 6 metros de diâmetro, aos oitões da cruz estão assentadas com essa pedra e dão um aspecto grandioso ao edifício. A cobertura feita com telha cor de ardósia, fabricadas também no próprio local."* * O templo não estava concluído em 1898 quando o jornal Correio Paulistano publicou essa matéria. A descrição certamente foi baseada no projeto que lá se encontrava exposto.
Segundo o engenheiro José Maurício Murgel, "é comum as pessoas citarem as telhas, não só da matriz mas de muitas construções antigas como vindas da França. Um engano, as telhas eram fabricadas por aqui mesmo; as prensas é que vieram da França, com marcas em relevo o que deu e ainda dá a entender que estas telhas vieram de Marselha, França. Pode-se ler nestas telhas "Marselhe - France", as prensas davam esta conotação enganosa. Já as telhas da velha estação da Douradense, onde hoje situa-se o Hipermercado Jahu Serve, eram de ardósia, não sei de pedra ou de cerâmica, não sobrou uma siquer para contar a história."
( dados retirados do site oficial da Matriz, no qual há a história completa da construção da igreja - http://www.senhoradopatrocinio.com.br/ )
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FÁBRICA DE GELO CRIADA EM 1910

Uma das mais antigas empresas a se estabelecer no Município foi uma fábrica de gelo, criada em 1910, que tinha suas instalações na Rua General Galvão, próximo à esquina com a Rua Quintino Bocaiúva. Os equipamentos vieram da cidade de Dresden, na Alemanha, e possuíam capacidade para fabricar 3,4 mil quilos de gelo a cada 12 horas, em uma época na qual não havia geladeiras elétricas.
A fábrica foi criada por um empresário alemão da família Doringer, que trouxe também uma moderna máquina de beneficiar arroz, outra de suas atividades. O gelo fabricado era vendido às residências para refrigerar as primitivas geladeiras, em sua maioria com estrutura de madeira. Os blocos de gelo eram acondicionados em um compartimento que ficava na parte superior. Ao derreter, a água escorria por uma torneira, próxima à base. Cada barra de gelo tinha 17 quilos.
Os blocos de gelo também eram largamente empregados pela Santa Casa de Jaú, para manter em temperaturas ideais medicamentos e outros produtos hospitalares, nos aparelhos de ar-condicionado da Companhia Paulista de Estrada de Ferro (que funcionavam com gelo), em padarias e frigoríficos. “Para fabricar mortadelas, os frigoríficos misturavam gelo na massa para não grudar”, conta o empresário Renato Guimarães Carboni, 72 anos, um dos ex-proprietários da empresa.
Carboni, que trabalhou por 20 anos na indústria, diz que a água para a fabricação do gelo vinha de um poço profundo, ao lado da empresa. As máquinas da gelaria eram tocadas por água captada em um braço do Rio Jaú, que saía de uma barragem na altura da ponte da Rua Tenente Lopes. “A fábrica fornecia gelo em todos os eventos sociais, festas, trabalhando aos sábados, domingos e feriados”, relata. “Só fechava às sextas-feiras santas, depois do almoço. Naquele tempo só havia geladeiras a gelo ou querosene.”

A trajetória

A história da família Carboni com a fábrica de gelo remonta a vinda de Gelside e Joaquim Carboni da Itália para o Brasil. O casal se fixou em uma fazenda em São Simão, região de Ribeirão Preto, onde Joaquim passou a trabalhar como maquinista de uma locomotiva que transportava café no interior da fazenda.
Quando os Doringer montaram a fábrica de gelo em Jaú, convidaram Carboni para trabalhar na empresa. Concomitantemente, um dos filhos do dono da fábrica casou-se com uma irmã de Joaquim, Maria. As atividades foram diversificadas. Além de gelo e da máquina de benefício de arroz, somou-se uma torrefação de café e uma fábrica de derivados de milho, entre os quais o famoso Fubá Roda D’Água, que é comercializado até hoje, e uma fábrica de ração.
Com o tempo, três filhos do casal Carboni, Américo, Ivo e Alberto (pai de Renato Carboni) adquiriram as empresas e fundaram a firma Irmãos Carboni. A fábrica de gelo teve sua produção restrita com o advento das geladeiras elétricas e freezers e acabou perdendo o vigor das primeiras décadas.
O maior pico das vendas se dava em épocas festivas, como Natal,
ano-novo e carnaval, até a interrupção das atividades, em 1979.
( texto publicado no Comércio do Jahu de 27/11/09, do jornalista José Renato de Almeida Prado )
Segundo Maria Wanda Garcia Carboni de Souza, há um pequeno engano no texto: Maria ,que se casou com filho do Carlos Doringer, era a filha mais velha dos meus avós Gelside e Joaquim, e não irmã . Maria veio da Itália, com 7 anos, junto com Ivo: os outros 5 filhos nasceram no Brasil.

Minha homenagem aos descendentes dos Carboni, em especial Maria Wanda e Mara, minhas especiais amigas.