Patrimônios de Jauensidade

Esta página é totalmente dedicada a tudo aquilo que de melhor representa Jaú. Com a ajuda de amigos, vou tentar fazer uma lista muito grande disso.

A jauensidade é um sentimento muito forte de amor às coisas de Jaú, à sua história, à sua gente e há e houve na cidade verdadeiros patrimônios que a representam. Alguns deles não mais existem, mas sempre são lembrados com um gostinho de saudade, porque eram marca registrada de nossa cidade numa determinada época de sua história.

- Praça da República – O Jardim de Baixo, como é conhecida a Praça da República, começou a ser construída por volta de 1910 em formato de peixe, com muitas árvores, um lago e o coreto. A praça possui três monumentos: a escultura de uma águia, construída pela colônia sírio-libanesa em homenagem a João Ribeiro de Barros; a réplica do Manequem Pis, o menino fazendo xixi (a original fica em Bruxelas, na Bélgica) e o monumento em homenagem aos combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932. É o principal cartão postal da cidade e a faz parte da tradição jauense a apresentação dominical, no seu coreto, da centenária Banda Carlos Gomes, outro patrimônio da jauensidade.

- Orquestras Capelozza e Continental – Essas duas orquestras têm muito em comum. A Orquestra Continental de Jaú foi criada com o nome de Jazz Orquestra Típica Continental de Jaú, no dia 7 de setembro de 1942, no Jahu Clube, pelos irmãos Amélio e Plácido Antonio Capelozza (Tunin). Em l946, passou a se chamar Orquestra Continental de Jaú. Em 1948 os irmãos Capelozza se mudaram para Marília e ela passou a ser dirigida por Waldomiro de Oliveira, meu pai, que era o cantor e ficou no cargo até 1968. Pouco tempo depois, a orquestra se dissolveu. Em 1949, os Capelozza voltaram para Jaú e fundaram a Líder Orquestra, que passou a se chamar Orquestra Capelozza, que encerrou suas atividades em 1970, com um baile no Nosso Clube de Bocaina. Por onde passavam, as orquestras deixavam gravado o nome de Jaú.

- Banda Marcial de Jaú - Na década de 50, Cassiano Pereira Pinto de Toledo, porteiro do Instituto de Educação Caetano Lourenço de Camargo, propôs a criação de uma fanfarra na escola para abrilhantar as apresentações dos alunos. Depois de muito trabalho para buscar recursos, estreou oficialmente em maio de 1954. Em 1959 passou à denominação de Banda Marcial e até 1970, quando encerrou suas atividades, teve uma trajetória de sucesso. Foi oito vezes campeã estadual, abrilhantou a abertura dos Jogos da Primavera no Rio de Janeiro, participou de festividades cívicas em várias cidades, se apresentou na TV e gravou dois LPs. A banda dos 120 passos por minuto fazia sucesso por onde passava e o nome de Jaú ecoava junto com sua música e ritmo contagiantes.

- Hospital Amaral Carvalho – No início dos anos 1900, o casal Anna Marcelina Campanhã de Carvalho e Domingos Pereira de Carvalho doou terras para a construção de uma maternidade, que foi fundada em 1936. A maternidade cresceu e se transformou no Hospital Amaral Carvalho. Em 2006, ao completar 70 anos, foi o recordista nacional em transplante de medula óssea e em 2008 e 2009 ficou entre os dez melhores hospitais do estado. Atende a pacientes de várias regiões do Brasil e alguns países do exterior e oferece um dos melhores e mais humanizados serviços oncológicos do país. É referência nacional em prevenção, diagnóstico, tratamento, pesquisa do câncer, é orgulho da cidade e um legítimo patrimônio da jauensidade.

- Saul Galvão – Ele costumava dizer que “modéstia à parte”, era de Jaú. Dedicou-se à crítica gastronômica por mais de trinta anos. Generoso, expansivo, descomplicado, espirituoso, tinha temperamento festivo e se comunicava muito bem com amadores, especialistas e profissionais. Ele dizia que as melhores cidades do mundo eram Jaú, São Paulo e Paris e gostava de escrever sobre as especialidades culinárias “incomparáveis” de sua casa. Segundo o enólogo Carlos Cabral, Saul vivia cantando em prosa e verso as delícias de sua infância em Jaú, onde convivia com a natureza e uma abundância de iguarias. Saul, um dos mais genuínos patrimônios da jauensidade.

- João Ribeiro de Barros e hidroavião Jahú – o aviador jauense saiu com o hidroavião Jahú de Gênova, na Itália, em 18 de outubro de 1926 e depois de inúmeros reveses, sabotagens, traições e pousos de emergência, decolou de Cabo Verde na madrugada do dia 28 de abril de 1927 e chegou ao Arquipélago de Fernando de Noronha por volta das dezessete horas do mesmo dia. Foi o primeiro aviador das três Américas a fazer a travessia aérea do Oceano Atlântico, da África à América do Sul, sem reabastecer e sem apoio marítimo. Hoje, finalmente, a cidade rende homenagens a João Ribeiro, que levou o seu nome para o ar, a terra e o mar.

Sonhos da Dona Irma – quem não conheceu Dona Irma, esposa do “tio” Cassiano, fundador da Banda Marcial do Instituto de Educação Caetano Lourenço de Camargo? Ela era responsável pela cantina da escola e segundo sua filha Vera, “embora muitos se recordem com saudades do pão com molho de tomates e carne moída, quentinho e crocante, servido nos intervalos, foi seu sonho macio envolvido numa fina camada de açúcar e fartamente recheado de creme que deixou uma marca registrada. Hoje tenho a certeza de que havia um contexto envolvendo esse quitute. Ela começava a fritar o sonho pouco antes do sinal de término da última aula. O cheiro da massa fritando entrava pelos corredores e vitrôs anunciando tanto o final do período de estudos como a promessa do doce deliciando os paladares. Ao sairmos, uma grande assadeira exibia os sonhos quentinhos, cobertos de açúcar, sobre o balcão. Ninguém resistia, todo mundo comprava e, quem não tinha os trocados suficientes, deixava no "fiado" ou procurava um amigo que financiasse. Assim, em longas filas, todos a pé, pois ninguém tinha carro, saímos rumo ao centro com o material escolar a tiracolo, um saboroso sonho nas mãos e muitos sonhos na nossa cabeça sonhadora de adolescentes.“ Eu nunca estudei no Instituto, mas conhecia a fama do sonho da Dona Irma e sem mesmo nunca o haver provado, sinto o gosto dessa saudade açucarada.

Maçãs da Mercearia Califórnia – na Rua Amaral Gurgel, havia um local, de cujos aromas me lembro até hoje. Era a mercearia dos Irmãos Bojikian, a precursora das “delicatessen”, onde bolachas, frutas secas e ao natural, chocolates, bebidas finas, especiarias, chocolates, a grande maioria importada, aguçavam os sentidos de todos que por ali passavam. Eu me lembro de umas latas altas quadradas, revestidas de papel ondulado, que guardavam em seu interior todos os tipos de bolachas torradinhas, apetitosas, vendidas a granel. Uma tentação. Havia também pequenas latas redondas e quadradas, algumas com divisórias e em cada uma, um tipo de bolacha. Depois de vazias serviam para guardar apetrechos domésticos, linhas, tesouras, agulhas, pequenos segredos, cartas de amor. E a uvas passas! Mas nada se comparava às maçãs, que ficavam expostas em caixas, perto das portas de entrada. Vermelhas, brilhantes, cheirosas, saborosas eram uma tentação a qual nenhum Adão resistiria. Muitos, como eu, quando vêem maçãs sedutoras em qualquer lugar em que estejam, aqui ou no exterior, se lembram imediatamente daquelas que perfumavam aquele trecho da Rua Amaral Gurgel, ponto de encontro de pessoas de várias faixas etárias. Por isso elas são também um patrimônio da jauensidade.


Biscoito de polvilho do seu Guilherme – meu sogro, Guilherme Antonio Cestari, e sua esposa, Manuela, vieram para Jaú em 1951, se estabeleceram na Rua Rui Barbosa, antiga Rua da Polenta, reduto de italianos, e durante quase 30 anos foram proprietários da Padaria Rui Barbosa. Faziam doces, broas de fubá, vários de pães salgados e doces, além de biscoitos como cangalha (em formato de L), torradinha (redondo, alto, que ia para o forno duas vezes, por isso era o verdadeiro bis coito, ou seja, cozido duas vezes) e o biscoito de polvilho, que era considerado o melhor da cidade. Era vendido a granel, embalado na hora em sacos de papel. Muitas famílias iam especialmente à padaria para buscá-lo e ele era acompanhamento obrigatório para o tradicional cafezinho da tarde, costume muito comum na época.

Torta de maçãs da dona Elpídia – na Rua Lourenço Prado, entre as ruas Dr. João Leite e Floriano Peixoto, ficava a confeitaria Vienense, na qual Elpídia e José Rueda produziam doces deliciosos. Mas nada era mais apreciado do que uma torta de maçãs feita de massa folhada, com uma camada de creme e por cima fatias de maçãs, cobertas com uma delicada geleia. Era vendida inteira ou em pedaços e fazia parte da tradição servir essa torta em festas ou mesmo como sobremesa. A confeitaria Vienense se mudou para a Rua Major Prado e lá a torta continuou sendo preparada com o mesmo carinho. Não há hoje na cidade uma torta tão saborosa e leve como a da dona Elpídia.

Bolos da Arminda – Na Rua Aristides Lobo Sobrinho, perto da escola Dr. Lopes, morava Arminda Pavanelli Pengo, a mais tradicional boleira de Jaú. Segundo artigo de Horácio Veríssimo Romão, publicado no Comércio de 5 de novembro de 2006, “Dona Arminda fazia bolos e doces para todas as festas que em Jaú se fizessem acontecer. Tinha uma criatividade para enfeitar aqueles bolos que até hoje não vi em nenhum confeiteiro que eu tenha conhecido. Com uma enorme satisfação, ela nos oferecia as panelas de glacê cozido e de recheios dos bolos para que nós, crianças, raspássemos e assim tivéssemos a oportunidade de apreciar os mais variados sabores doces que povoaram a minha infância”. E termina dizendo que hoje, quando come um pedaço de bolo em uma festa, se lembra dos bolos da dona Arminda, mas que nenhum tem aquele sabor especial que tinha os dela.

Pipocas do Zé Costa – No dia 29 de agosto de 1985, o educador Paulo Freire veio a Jaú para proferir uma palestra na antiga Faculdade de Filosofia Ciências e Letras a convite da diretora professora Jean Marly Sudaia. Ao iniciá-la, Freire disse com toda aquela propriedade que lhe era peculiar, que tinha visto em Jaú algo que nunca havia visto em nenhum lugar do mundo e que o encantara: um pipoqueiro, que ficava na porta do prédio da faculdade, que tinha uma TV em cima do seu carrinho. Era o simpático e inovador Zé Costa. Nos intervalos das aulas, nos dias de jogos e de acontecimentos importantes, os alunos se aglomeravam em volta do carrinho, se deliciavam com saborosa pipoca, que tinha um gosto de modernidade e as aulas... bem, nesse momento elas não tinham mais importância do que as imagens da TV do pipoqueiro.

Bijus do Tenca – Quando se ouvia um barulho de catraca – um pedaço de madeira com uma haste em forma de U presa a ela, que quando balançada batia na madeira fazendo um som característico – era porque vinha vindo um rapazinho, com um vasilhame cilíndrico de alumínio pendurado no ombro, em cujo interior se enfileiravam bijus torradinhos, em formato de cone. Eram os bijus do Tenca, um senhor que trabalhava na Delegacia de Polícia e fazia artesanalmente em sua casa, essas iguarias brasileiríssimas. Sempre compro bijus, mas nenhum tem o sabor e a textura desse legítimo representante de Jaú.

Rodízio do Concha - o Posto Concha de Ouro, localizado na Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, a poucos quilômetros de Jaú, no final da década de 70, era o centro das atenções nos domingos, porque no seu restaurante, era servido o mais farto e tradicional churrasco da cidade.Famílias inteiras às vezes esperavam na fila a sua vez de saborear todos os tipos de carnes caprichosamente churrasqueadas. Se a parentada aparecesse no final de semana: rodízio no Concha. O proprietário do Posto era Sérgio Masiero. Jorge Luiz Cerino, o Jorge da Drogaria Jauense, se lembra de que na época trabalhava na Farmácia NS Aparecida e que ele não via a hora de que a farmácia encerrasse suas atividades no domingo por volta da meio dia, para ele ir correndo a esse que foi por muitos anos destino obrigatório dos apreciadores da boa mesa.


Sorvete de uvaia– a uvaia é uma fruta que costumava fazer parte dos quintais, mas quase desapareceu nestes tempos de refrigerantes, sucos artificiais e tantas outras bebidas. Há décadas o sorvete de uvaia é um dos sabores presentes na mais tradicional sorveteria de Jaú, a sorveteria Pereira, da família Garcia.

Soda XV - as décadas passaram, os donos da fábrica mudaram, mas o sabor ficou sempre o mesmo, inconfundível e marcante. Quem não se lembra de quando refrigerante só se tomava no domingo e que obrigatoriamente nesse dia havia garrafas de vidro da “gasosa do Zugliani” em cima da mesa, junto à macarronada e ao frango assado com farofa? E quando era colocada no copo e batizada com um pouco de vinho tinto? Em 2006, quando em Brasília, minha filha Juliana e eu lançamos nosso livro, convidamos muitos jauenses que moram lá e levei daqui, alguns fardos da sodinha para servir bem gelada durante o coquetel. O garçom avisava: sodinha de Jaú - se podia ver a satisfação dos jauenses ao degustá-la. Tem coisa mais jauense do que ela?

Sanduíche do Rospo – o pão bem crocante, o queijo derretendo, a carne saborosa e o cheiro... Esse sanduíche tão delicioso se remete aos tempos do chamado velho Rospo, cujo bar perto da Matriz, vendia também uma deliciosa garapa. Do pai passou ao filho, do filho ao neto e até hoje continua agradando àqueles que gostam de um lanche, com sabor de história.

Queijadinhas da Vó Odila – Eu me lembro de quando Odila, que ainda não era avó, morava numa casa na Rua Lourenço Prado e lá fazia seus deliciosos salgados e as queijadinhas de puro coco, as mais saborosas que já provei. Hoje os filhos de Vó Odila comercializam em embalagens descartáveis as queijadinhas, que têm o mesmo sabor e a mesma textura daquelas antigas. Imperdíveis.

Groselha da Primor – para muitos, não existe uma groselha mais gostosa do que a jauense. Meu filho é tão fanático por essa groselha que,quando ele estudava no Canadá, eu a enviava pelo correio, acondicionada num recipiente de isopor, próprio para se colocar garrafa de cerveja. Depois que se mudou para Brasília, ele levava uma caixa dela para lá e distribuía parte para seus amigos, que se deliciavam com um autêntico sabor jauense. Era muito usada em deliciosos drinques. Ela, a soda e a queijadinha são parte do “Kit Jaú” com o qual presenteio alguns amigos que vêm nos visitar.

Pastel do mercado municipal – Há 48 anos, Kiosi Kataoka, carinhosamente conhecido como o japonês da pastelaria do mercado, presenteia Jaú com saborosos pastéis, dos mais variados sabores; mas o campeão de vendas é o de carne. Se quem não gosta de pastel, bom sujeito não é, é incontestável que os jauenses são bons sujeitos, porque a sua pastelaria está sempre lotada. Uma delícia irresistível.

Leitoa à pururuca do Polaco – é um dos tradicionais pratos da cozinha caipira, que atrai para Pouso Alegre de Baixo, pessoas daqui, dali, de acolá, de longe, de perto e até do exterior. E quem resiste ao arroz com bacon! É bom comer à vontade e depois dar umas voltas ao redor da Igreja de Santa Luzia, para pagar o pecado da gula.

Fubá Roda D´Água - segundo Giovanni Filippi, chef de cozinha e proprietário do restaurante Calzone," aqui em Jaú, terra de imigrantes italianos, temos o privilégio de contar com uma empresa que, para mim, tem o melhor produto disponível do mercado brasileiro; falo do Fubá Roda D'Água, que faz a melhor polenta do mundo. " Esse fubá existe há dezenas de anos e era produzido e comercializado pelos irmãos Carboni, que possuiam também uma fábrica de gelo, na rua General Galvão, próximo à esquina com a rua Quintino Bocaiuva. Saindo da Rua Tenente Lopes, em direção à rua Quintino, há uma rua que margeia o rio Jaú e termina onde começa a Quintino.Antigamente, nesse trecho, havia um braço do rio Jaú, que passava pela indústria dos Carboni e tocava as máquinas . Esse braço desaguava no próprio rio Jaú, numa pequena praça na qual há um repuxo com uns leões, ao lado de onde há hoje uma construção do SANEJ.

Doces da Dona Maria - Dona Maria é uma simpática senhora, excelente doceira e cozinheira, que comercializava seus produtos na rua Major Prado, ao lado da Drogasil. Ela montava uma mesinha, a cobria com uma impecável toalha branca e sentada em seu banquinho, vendia doces caseiros em compotas ( figo, pêssego, cidra, goiaba e laranja-cavalo, muitas vezes trazidas do Sítio Bom Pastor, de meus pais ) , além de canudinho recheado com cocada, doce de leite, alguns salgados e uma saborosíssima torta de frango. Hoje sua filha Tuta é quem vende seus produtos. Dona Maria é mãe da famosa quituteira Tianinha, uma das pioneiras em serviços de bufê para festas e casamentos na cidade. Um patrimônio de jauensidade muito bem lembrado pelo amigo Tadeu Tamanini.

Há muitos patrimônios da jauensidade que hoje, infelizmente, já não existem mais: o biscoito de polvinho do seu Guilherme da Padaria Rui Barbosa, os bijus do Tenca, a torta de maçã da Dona Elpídia, a pipoca do Zé Costa, o sanduíche de filé com provolone do Januário, a “égua” do bar do Moacir, o café com leite da madrugada do Bar do Chaves, a canja servida no carnaval da churrascaria do Gaúcho. Há alguns relativamente recentes, mas que já fazem parte das tradições de Jaú: o chopp e os cigarretes de provolone da choperia Jardim, o uísque sauer do Restaurante Zezinho, o papardeli do Calzone, para começar