domingo, 29 de agosto de 2010

Conversê eleitoral

Nessa época de eleição, é bom ouvir o que o povo diz sobre política e políticos.

Conversê eleitoral
Maria Waldete de Oliveira Cestari
Sábado de manhã, Jardim de Baixo. Um barulho ensurdecedor. As amigas se encontram.
- Credo, que barulho! A gente sai de casa pra curtir um som de qualidade e essa barulheira infernal. Olhe aquela lá! Colocando adesivo em todos os carros! Sem pedir permissão! Era só o que faltava.
- Que falta de respeito! Ouça quantos rojões. Devem estar inaugurando algum comitê de candidato. E esse carro de som?
- É de outro candidato. O dia promete: sábado de sol, cidade cheia, as campanhas estão na rua. Aposto que daqui a pouco vai passar por aqui uma caravana, daquelas cheias de bandeiras, gente acenando, música no último. O páreo vai ser difícil.
- O pior é que pelo andar da carruagem... vamos ficar a ver navios.
- Você também acha, é?
- Acho não, tenho quase certeza. Já viu quantos candidatos querendo ser deputado tem em Jaú? É amor demais pela cidade. Coisa de louco.
- Que absurdo, não. Mais uma vez a história se repete. Cada um por si e a cidade que se lasque.
- Eu li um artigo no Comércio que dizia que numa projeção otimista, 80% dos votos válidos vão ser aproveitados. Mais ou menos 55 mil votos.
- Já pensou? Dividir isso pelo número de candidatos? Uns logicamente terão uma merreca de votos; outros terão mais, mas se não fizerem campanhas em outras cidades, vão dançar também.
- Esses que terão essa merreca que você falou, será que já pararam para pensar nisso? Não seria melhor saírem da parada e deixarem os votos pra quem tem chance? Ou acreditam em milagres?! Vão cair votos do céu, feito maná.
- Talvez até pensaram, mas sabe como é que é, né. Há mais coisas entre os políticos e a política do que imagina nossa vã cabeça dura.
- Acho isso uma falta de consideração com Jaú. Será que nunca vão se entender? Será que é tão difícil cada um ceder um pouco e se unir em favor da cidade?
- Difícil? Não. Impossível. No dicionário deles não existe a palavra consenso. Consenso é coisa de outro planeta. E mais uma vez, quem vai perder?
- Nós. A cidade. E para piorar, tens uns e outros que dizem: é, a gente elege um deputado e depois ele não faz nada.
- É impossível que alguém se eleja e durante quatro anos não faça nada pela cidade que o elegeu. Porque por menos que faça, alguma coisa por ela ele faz.
- Tem que fazer. E mostrar o que fez.
- Na eleição passada, quando tinha chance de Jaú eleger um deputado, eu ouvi muita gente dizer na cara dura que não ia votar em candidato daqui.
- É com isso que eu não me entra na cabeça: desdenham os daqui e votam nos de fora. Não é um absurdo? É, santo da casa não faz milagre mesmo.
- Vai tentar entender esse povo. Eles sempre têm uma porção de argumentos. E dá-lhe voto nos pára-quedistas estrangeiros. Aqueles que só mostram a cara quando chegam as eleições; depois somem e nunca mais aparecem. Ou fazem aparição cometa, dão uma verba aqui, outrazinha ali e desaparecem.
- Tem alguns eleitores que fazem isso e justificam dizendo que com essa penca de candidatos, há muita possibilidade de nenhum ser eleito, então não querem desperdiçar o voto. Só que assim, prejudicam os daqui.
- É mesmo. Vou lhe contar um absurdo. Eu sei de gente que na eleição passada preferiu votar em candidatos corruptos, com pendengas na justiça até o pescoço, aquelas velhas raposas, do que dar um voto de confiança nos daqui.
- Nossa, que atitude cidadã! Digna de mil chicotadas.
- Como foi dito naquele artigo do Comércio, estas eleições não vão ser para amadores e quem estiver se aventurando pode ter graves prejuízos políticos. Isso já aconteceu em outras épocas. Quem tem boa memória deve se lembrar de alguns casos.
- Vamos esperar pra ver. Aliás, escute lá a barulheira de novo. Vem vindo alguma caravana por aí.
- É amiga, no dia 4 de outubro, saberemos se Shakespeare tinha razão: muito barulho por nada. E se tiver, Jaú ficará mais uma vez sem representantes. O que será uma lástima.

Ipês rosa no auge de sua floração.

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